O estupro da empatia.

 



O bairro buraco quente estava em polvorosa, pois chegou ao ouvido do povo a ocorrência de um  estupro:


  • Onde está o estuprador? Seu Zé babava de ódio.


  • Onde está o cara para que a gente faça justiça. Acrescenta João baixinho.


E esse comportamento se repetiu em toda turba enfurecida que, ao encontrar  finalmente o homem, descarregou todo o seu ódio e frustração há muito retidos e guardados para uma ocasião como essa.


Porém, poucos se deram conta de que a menina (uma adolescente de treze anos) precisava de apoio e amparo naquele momento tão difícil para ela. Apenas Ana, uma colega dela, a foi procurar em meio aquela insana confusão.


  • Você está bem Maria ?


Maria Eduarda chorava muito e sentia muitas dores (físicas e emocionais) e não respondeu com palavras à pergunta da colega. Com os olhos vermelhos de tanto chorar, abraçou a amiga e deu livre curso às lágrimas. 


Vinte minutos depois relatou o ocorrido que não vale a pena ser reproduzido aqui. 


A turba furiosa, após assassinar o estuprador e saciar sua sede insana de sangue, ocupava as ruas do bairro e cada um relatava com orgulho sua participação "heróica" no assassinato que acabavam de locupletar. Quase ninguém se deu conta da vítima do ocorrido, exceto algumas mulheres que acabavam de chegar.


Por que será que a nossa sede de sangue ainda predomina sobre a nossa vontade de nos mostrarmos como seres humanos?


Por que o instinto primitivo fala mais alto em momentos como esses?


Será que o ódio ainda é tão forte em nós que preferimos esquecer a vítima para acertar as contas com um estuprador violento que também pode estar dentro de nós?


Pensemos bem  em como agiríamos em situação semelhante!


Francisco Lima


Bom dia!





Comentários

  1. A violência que há em nós não poderia deixar passar.incólume um fato como esse. Resolver com violência um ato violento. Há dentro de nós uma fera que precisa ser domada. Em alguns já foi domesticada, mas em muitos ela impera. Ali estão todos os recalques, o preconceito, o orgulho, a vaidade. E nada disso é positivo. O bicho homem tem que se humanizar. Vivemos uma época em que os valores estão invertidos. Todo mal está liberado e aceito como normal. Devemos lutar contra isso. E não será fácil, mas quando é que a vida foi? Vai demorar um pouco, mas essa loucura vai acabar. Só espero que não estejamos tão destruídos ao ponto de ficar difícil a nossa reestruturação.

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    1. Ainda mais nesse momento né minha amiga! Ser violento e agressivo agora não é mais vergonha em nosso Brasil.

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