Taís preferiu a ética de jesus.

 



Tais é uma mulher pobre que vive numa comunidade de uma cidade na região metropolitana do RJ. Como acontece sempre, o estado só se mostra "presente" quando as forças policiais chegam atirando e matando sem critério nem planejamento.


Como é muito distante do centro da cidade (que já não é grande coisa) são muito reduzidos os meios de sociabilidade e entretenimento. A "igreja pentecostal é dando que se recebe no céu" é a única forma de encontro social mais próximo da sua casa. 


Um dia, ouvia o sermão do  pastor Edvaldo: 


  • A pobreza maior consiste em não querer dar. Do pouco que cada um pode dar, construiremos um grande templo e outros mais. Seremos uma grande igreja. 


Intimamente, Tais discordava de muita coisa que o pastor falava, mas sabia que tinha que ter muito cuidado na hora de se expressar:


  • Ele sonha ser grande. Será que Jesus também tinha esse projeto de grandeza?


  • Não sei amiga. O que sei é que o pastor quer elevar o nome da nossa comunidade. Já pensou uma grande igreja tendo sua matriz em nossa comunidade? Isso aqui vai crescer junto.


  • Será? Acho que a comunidade não cresce junto com a igreja.


Taís evitava um embate mais acalorado, pois sabia que o pastor estava de olho nas suas orelhas. Sua amiga, Joana, havia sido expulsa da igreja, pois questionava o projeto de poder do pastor e a obrigatoriedade do pagamento do dízimo, quando, sequer, tinha dinheiro para comprar comida. 


Taís não concordava também com o pagamento do dízimo obrigatório, mas o pastor alegava que era uma obrigação atestada na bíblia. Apesar da pobreza extrema dos fiéis, havia sempre pedidos extras de dinheiro para expandir a igreja que, pouco a pouco, se transformava num templo. 


Muita gente fazia jejum obrigatório, pois comer pouco, segundo o pastor, era bom para ir purificando a alma. Assim, o povo dava seu dinheirinho suado  para as obras da igreja, mesmo que a fome fosse o preço a pagar em muitos momentos. 


Taís só pagava o dízimo obrigatório e se perguntava algumas vezes: 


  • Será correto, do ponto de vista cristão, impor a fome a uma comunidade em nome de um projeto de poder? 


  • Será que Jesus aprovaria as atitudes do pastor Edvaldo ?


  • Será que valeria a pena continuar naquela "igreja" apenas para ter um espaço de sociabilidade?


E Tais chutou o balde. Saiu da igreja, pois  não ia mais compactuar com aquela injustiça.  Era melhor pagar o preço do que ter tantas questões insolúveis na cabeça.


Será que não estamos precisando de mais pessoas como a Taís?



Francisco Lima


Bom dia!!




Comentários

  1. Taís demonstrou que é um ser pensante. Toda esse questionamento dela é plausível. Jesus destruiu (com certa raiva até) o templo que fazia comércio em seu nome. Não sou evangélica e o pouco que li da Bíblia, ficou claro pra mim. Jesus não precisa de templo nem tampouco de ser adotado. Ele pede apenas que sigamos seus exemplos. Desconfiemos de qualquer ato em seu nome que entre dinheiro e sacrifício do povo. Seja onde for e em qualquer religião.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O dia em que aprendermos a ser mais humanos, não precisaremos nem de religião mais. Oxalá esse dia chegue bem rápido.

      Excluir
  2. Respostas
    1. Ben rápido significa daqui a alguns séculos o que para um espírito é pouco tempo.

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Vamos aprender com nossos erros ?

Rejeições, criança ferida, traumas do passado...

Relatos dos sonhos