A história de superação de Kátia.

 



-Levanta dessa cama mulher!  Vai procurar o que fazer. O silêncio, quase sempre, era a resposta de Kátia. Mas, dessa vez foi diferente.  Ela chutou o balde.


  • CHEGA. Não aguento mais as suas grosserias! Vou embora dessa casa.


  • Calma meu amor! Contemporizou ele. Só não aguento te ver tão desanimada. 


  • Depressão meu querido. Já ouviu falar dessa doença?


  • E depressão é  doença desde quando?


  • Desde que muitas pessoas se matam por causa dela meu bem. 


Meu marido era meio grosseiro, ignorante, mas extremamente carinhoso comigo. Muitas vezes pensei em deixá-lo, mas acabei cedendo aos  muitos pedidos de perdão e outras gentilezas das quais ele era pródigo. 


 Eu, ao contrário dele, jamais pedi perdão. Pelo menos, até o ano de 2020, quando a depressão veio fazer uma reviravolta na minha vida. 


Antônio, meu digníssimo marido, até que teve bastante paciência comigo, mas ele, com seu jeito às vezes grosseiro, só queria ver a minha reação. 


Os métodos dele podem ser muito questionáveis, mas a intenção ( que é o que deve ser levado em conta) é boa.  


Depois de meses numa profunda tristeza, nos quais a ansiedade me consumia, vou contar aqui a história da minha volta por cima. E Antônio foi um personagem fundamental (mas não o único) nesse processo.


O espelho me disse.


A tristeza nos acomete e vai se aprofundando quando o espelho começa a falar a verdade para nós. 


E Antônio sempre quis representar esse contraponto para mim, mas eu  preferia as respostas do meu ego.


Amigavelmente ele me dizia; 


  • Amor procure olhar um pouco mais para dentro de você. Suas atitudes são quase sempre egocêntricas e arrogantes. Por essa razão, você tem dificuldades de socialização. 


Eu, invariavelmente, respondia: 


  • É porque eu não sou hipócrita. Eu não suporto a hipocrisia desse povo. 


Ele não se dava por satisfeito; 


  • Pensa bem no que estou dizendo.


  • Quem é você para me dar conselhos ou me ensinar a viver?  Vê se te olha no espelho!


E a discussão acabava com ele levando mais uma porrada do meu inflado ego. 


Eu disse acima que, geralmente, preferia não responder, mas agora você entende a razão do silêncio.  Minhas respostas são automaticamente agressivas e eu, sequer, me dou conta disso.


Acontece que o sofrimento, pai da sabedoria, foi moldando, pouco a pouco um novo ser. Após anos de relações sociais conturbadas, eis que veio a pandemia e a casa caiu para mim. 


Ou será estarei erguendo uma nova casa, só que com alicerces mais firmes?


Depois de muito me estudar, cheguei à conclusão de que nenhum ser humano é feliz sem se conectar, genuinamente,  com outros seres humanos. 


Assim, ter uma família grande ( meu caso)  não é, necessariamente, garantia de conexões duradouras e saudáveis. Mas descobri que a minha abertura, a busca do meu eu transcendente poderia proporcionar essas conexões até mesmo com meus irmãos.

E isso aconteceu em alguns casos.


Um dia conversava com Jairo, uma das  pessoas fundamentais na minha jornada de 2020:


  • Para que serve o sofrimento? Fui logo jogando essa simples questão.


  • Para impulsionar as pessoas. Para que o desconforto, oriundo do sofrimento,  leve a pessoa a mudar.


  • Então o sofrimento é um mal necessário? 


  • Necessário até que a gente aprenda a amar.


  • Mas se amar é bom, por que não aprendemos a amar em vez de sofrer?


  • Fatores como orgulho, vaidade e, principalmente o egoísmo, atrapalham essa marcha rumo ao ao amor. 


  • Tá aí. Vou aprender a amar.  


Mas, para provocar um pouco mais mandei: 


  • O que você pensa sobre homoafetividade?


  • Do ponto do vista espiritual não existe homem ou mulher. Todos somos espíritos. Assim, olhando por esse prisma,   todas as relações são experiências que podem nos propiciar crescimento.


  • Você se relacionaria com outro homem? 


  • Somente o amor pode definir essas relações. Se eu sentisse amor, não haveria nenhum problema quanto a isso. 


É bom lembrar, que o meu amigo é reencarnacionista como eu o que faz com que essas questões ganhem outro contorno.


Conversei muito com Daniele, Marco Antônio e Tânia. Essa última é também amante da literatura como eu. Um dia ainda vamos publicar um livro.


Mergulhei no estudo da psicologia em busca do autoconhecimento. E entre essas poucas pessoas fechamento que me ajudaram a transformar 2020 num dos melhores anos da minha vida estava Marta. 


Apesar de conhecer poucas pessoas a fundo, vi que Marta era diferente. Uma pessoa sensível, sonhadora e que, aparentemente,  ainda não tinha sofrido as grandes desilusões da vida com seus 22 aninhos.


Nos conhecemos na internet durante a pandemia. Ela adorava saber sobre psicologia, espiritualidade e outras coisas mais. Então, me perguntava (e ainda pergunta) um monte de coisas. 


Um dia, ela me surpreendeu ao questionar: 


  • Você já se sentiu inadequada ? 


  • Eu sempre me senti assim.  Mas, qual a razão dessa pergunta?


  • Nada….


  • Fala menina.


  • É que às vezes me sinto desconfortável num corpo feminino.


  • Você já namorou meninas? 


  • Ainda não.


  • Mas você não é a única que se sente assim. Você acredita que já tivemos outras vidas?


  • Eu sinto que já estive num corpo masculino. Sempre sonho que sou um menino.


  • São conteúdos do seu inconsciente.  Fui dando uma de entendida no assunto.


  • Como assim?


  • É que nós carregamos memórias de outras vidas e muitos dos nossos sonhos podem ter relação com o que já vivemos no passado.


  • Você também tem esses sonhos?


Por incrível que pareça, sonho coisas idênticas ao seu relato. 


Meu casamento ia bem na medida do possível, mas, ainda não tinha filhos. Apesar de Antônio me cobrar muito nesse sentido. Já estávamos casados há dez anos e até a mãe dele já cobrava um netinho.


As coisas, porém, ganharam outro contorno. Nos últimos dias de 2020 resolvi conhecer Marta pessoalmente. Há muito esperávamos por esse momento.


Com  cinemas, bares e outras coisas fechados, nos encontramos numa praça próxima da casa dela na Tijuca.  


Eu refletia sobre tudo o que estudei em psicologia analítica e cheguei a uma conclusão: meu lado animus era mais forte que o anima. Em outras palavras: O lado masculino era predominante no meu ser. Ao me encontrar com Marta, pensava nessas coisas. Ao me defrontar com aquela moça linda me encantei.  Sua  voz, também, foi motivo de encantamento: 


  • Oi. Tudo bem?


  • Tudo ótimo. Principalmente agora que estou perto de você. 


Mais direta, impossível. Ela, aínda meio sem jeito, apenas disse:


  • É um grande prazer te conhecer.


E foi a primeira vez que me apaixonei na minha vida. E por uma mulher, coisa que eu jamais imaginaria que pudesse acontecer antes desse histórico 2020. 


Já estamos um mês juntos e cada dia nosso amor cresce mais. Nunca estive tão feliz e tão realizada na minha vida.


Francisco Lima








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