Tirando o véu do passado.

Olhando pelo retrovisor vejo alguns traços da minha vida que não foram percebidos quando ainda era uma criança. A falta de informação, a ignorância e outros fatores frutos de uma época histórica onde a truculência era uma marca registrada. 

 Num regime autoritário, as famílias talvez sigam um modelo igualmente autoritário.


Mas, ao olhar para trás vejo traços (e não poucos) de dislexia algo que gerou sérios problemas de aprendizado e algumas reprovações no âmbito escolar. Desistir da escola ( que nunca frequentei com seriedade) era só uma questão de tempo, algo que cedo aconteceu comigo e com meus irmãos.

 Sendo eu  diferente, calado, fechado.... e tendo um péssimo desempenho escolar,  é óbvio que os rótulos se encaixariam perfeitamente bem com essa personalidade diferente num mundo que não tolera as diferenças. 

Assim, ser chamado de   de burro, idiota, incapaz e  até maluco era mais que natural. Louco era o pior xingamento que alguém poderia   receber e vi muitos perderem o equilíbrio por isso.

O tempo passou e eu, depois de muitos anos e não poucos tropeços e desacertos me descobri capaz de me exprimir por meio da escrita, algo que me ajuda bastante, pois tenho natural dificuldade de falar as coisas que sinto.

Outras questões caracterizam meu ser como uma inabilidade de ter convivência longa e saudável com outras pessoas, algo que estou procurando corrigir pouco a pouco.

O autoconhecimento em processo me leva a crer que também carrego comigo alguns traços do tão falado autismo ( mas não sou autista), pois ainda tenho, como dito, bastante dificuldade em me socializar e outras coisas no mesmo sentido.

Vencer essa característica, essa tendência ao isolamento é meu principal desafio, mas não é uma tarefa das mais fáceis, pois parece que muitas vezes busco esse "auto exílio" o que não é bem interpretado pelas pessoas que têm uma relação mais próxima comigo.

Quando me percebi capaz, cursei universidade, passei em concursos e a vida me deu a oportunidade de ser professor e tenho aprendido muito no convivo com essas crianças que sofrem toda sorte de discriminação no seu cotidiano, especialmente aquelas que tem algum transtorno, como os autistas, por exemplo.

Felizmente hoje é fácil detectar tais características e as crianças tem um acompanhamento escolar que pode, mesmo que de forma precária, levar em conta essa diferença que as torna um ser especial, no bom sentido. 

Mas esse  não é um acompanhamento efetivo e o ambiente das lotadas salas de aula é totalmente inadequado para quem abomina o barulho e a gritaria constantes nesse caldeirão que é a sala de aula em uma escola pública.

Quanto a mim, hoje busco tentar me adaptar, sempre levando em conta que há motivos maiores para que tenhamos tais problemáticas em nossas vidas. Entendê-las na sua integralidade somente depois que estivermos partido para o mundo intangível.

Outras questões poderiam ser colocadas aqui, mas vamos usar esse diário (ou semanário ou mensário...) com moderação. Quem sabe noutra oportunidade continuemos essa história.




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