O conjuntão, o Rio de janeiro, o Brasil e a política.

Recordações e o contexto político.

Episódio 5.

 A loja de materiais de construção de Dona Fernanda e Senhor Lauro  vendia bastante e o casal não tinha muito do que reclamar. Apesar do baixo lucro inicial, pois tudo tinha que ser revertido em novas mercadorias, as coisas estavam no caminho certo e, dentro de alguns meses, o lucro do negócio ia  começar a aparecer. 

No contexto histórico-geográfico-político ainda havia aquela bizarra divisão em dois estados: estado da Guanabara ( cidade do Rio de janeiro) e estado do Rio de janeiro que abrangia todo o resto. 

A cidade do Rio ganhara status de estado mas isso não mudou nada na vida das pessoas.  Tinha-se  a impressão de que naquele ano de 1963 havia uma estranha movimentação dos quartéis na direção da política. E o apoio dos jornais e da imprensa  em geral parecia explícito.  um golpe das forças armadas era o que (parecia ) estava sendo gestado naquele momento.

Lauro pensava sobre o assunto:

-Lembro como se fosse hoje da fatídica notícia que veio como uma  bomba:

- Jânio Quadros renunciou seu Lauro! O senhor não viu na televisão?

- Televisão? isso é coisa para rico seu João!  

- Eu vi na empresa onde trabalho, pois na minha casa também só tem rádio. Nesse tempo Lauro ainda vivia na zona Sul do Rio de janeiro com toda a sua família onde trabalhava com a parte de manutenção num prédio de bacanas (gente rica).


Quando o presidente Jânio Quadros renunciou e João Goulart (conhecido como Jango) tinha que assumir o poder a coisa desandou.

Jango não foi aceito, pois sofria uma terrível oposição e resistência da imprensa.  As contendas políticas são transmitidas ao vivo pelo rádio:

- Um esquerdista, um comunista não pode ser presidente do Brasil. Temos que dar um jeito de tirar os poderes deste tal de Jango, disse um comentarista furioso.

O comentarista em questão era o próprio governador da Guanabara, o senhor Carlos Lacerda.

No final  de 1963,já morando no conjuntão, Lauro ainda ouve essas coisas de esquerdista,  de comunista, mas ainda  não sabe direito o que significa ser esquerdista do ponto de vista político. 

Quando vê  Kaylane pela manhã, antes que ela fosse para a faculdade:

- Oi filha! Quase não te vejo mais...

- A vida tá corrida e a faculdade é o dia inteiro.

- Como está o ambiente político na universidade ?

-  Por que essa pergunta pai ?

- Porque ouço muita gente chamando o presidente de esquerdista, de comunista e até  sinto que ele talvez não tenha apoio para se sustentar no cargo. Porém eu não entendo o que é ser esquerdista ou comunista. Você sabe me explicar?

- Sua impressão está correta pai. O presidente, de fato, sofre uma pressão persistente e diária. Parece um complô contra ele. Quando ao esquerdismo ou comunismo vou deixar para lhe falar sobre isso com calma no final de semana. Pode ser ?

- Claro filha! Sem problemas! Até lá ficarei em grande expectativa. 

E senhor Lauro não via a hora de ouvir as explicações da filha. Então, aguardemos o próximo episódio.




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