Histórias que se cruzam no país das maracutaias.

 


Histórias que se cruzam no país das maracutaias.


Alguns eventos acontecidos no Brasil de 1976:


24 de junho: O Congresso Nacional do Brasil, por 221 votos a favor, aprova a Lei Falcão, que regulamenta a propaganda eleitoral no rádio e na televisão. …


 23 de agosto: Morre o ex-presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek em um acidente de carro, no mínimo suspeito,  na Rodovia Presidente Dutra, próximo de Resende, Rio de Janeiro. .


Vivíamos em plena ditadura militar em nosso pobre  Brasil varonil e não tínhamos nada o que comemorar, pois além das liberdades fundamentais continuarem suprimidas, os trabalhadores amargavam um baita arrocho salarial fruto ainda da crise internacional do petróleo ocorrida em 1973 e de uma equivocada política de endividamento e dependência do capital estrangeiro...

 


  • Espera aí meu amigo... você vai contar a história política do Brasil ou falar de duas histórias anônimas que se cruzaram?


  • Tá bom, você tem razão! Vamos deixar para lá as tramóias desse período sombrio, pois isso só ia me causar revolta e indignação inúteis…


Então,  vamos contar uma história mais atrativa.


Era o dia da volta às aulas daquele tumultuado ano de 1976 e a professora Tânia estava motivada para retornar ao  trabalho depois de merecidas férias. Gostava do ofício docente e o fazia com muito amor ❤️.


 Na escola da periferia do Rio de janeiro Tânia trabalharia naquele ano com uma turma de quarta série e estava satisfeita por variar um pouco, pois, geralmente, trabalhava com primeiro ano na tarefa árdua de alfabetização. 


Ver as crianças aprendendo a ler e escrever era sua maior alegria, depois de persistentes e reiteradas tentativas, mudanças de estratégias e novas tentativas até o êxito final do tentame.


Naquele ano, o desafio seria pegar uma turma de alunos maiores para consolidar os conhecimentos adquiridos lá trás. A direção pediu e Tânia, que não recusava nenhum desafio, aceitou considerando a oportunidade de aprendizado que tal experiência lhe traria.


E lá se foi aquela jovem de 28 anos encarar o primeiro dia do ano com sua motivação costumeira. O amor ao ofício e à vida lhe davam  essa motivação, essa alegria que transbordava nos seus atos e atitudes, comprimentando a todos sempre com seu lindo sorriso, espalhando alegria pelas estradas da vida.


A sala de aula estava repleta naquele dia e havia alguns novos alunos vindos de outras escolas de municípios vizinhos, o que, vez por outra acontecia. Dentre os novos alunos havia um chamado Francisco, um personagem de quem vamos ficar muito íntimos daqui a pouco.


Após os comprimentos e as devidas apresentações dos alunos, Tânia começou sua fala que sempre levantava o astral e autoestima dos alunos:


  • Não aceitem a derrota na vida de vocês! Vocês nasceram para vencer e não podem acreditar em quem diga algo diferente disso. Todos vocês têm capacidade e inteligência para vencer todas as dificuldades. Nisso, o aluno maior da turma levantou o braço:


  • Eu sou Francisco, tenho 13 anos e gostaria de saber o que pode nos levar a vencer as dificuldades ?

 

  • Vontade de vencê-las é o principal ingrediente. As dificuldades vencidas faz a gente ficar mais forte a cada dia.


E Tânia continuou falando durante um bom tempo, mas fixou sua atenção naquele adolescente que era bem maior que o restante da turma e, certamente, já tinha muitos acidentes de percurso em sua vida para que tivesse se atrasado tanto nos estudos. 


Quando saia da escola, viu que o menino a esperava perto do portão e, meio sem jeito, tentou abordá-la:


  • Eu não queria incomodar a senhora, mas é que….eu não consegui ir embora…….


Nem precisou completar a lacônica frase, pois a professora, com sua sensibilidade costumeira, deixou as coisas mais fáceis para o menino.


  • Eu também queria conversar com você. Mas não pode ser aqui no portão né. Vamos sentar alí na sorveteria.


  • Quer um picolé, um sorvete…


O menino não quis aceitar, pois estava totalmente sem jeito diante daquela situação. Estava radiante, mas ao mesmo tempo não sabia como agir…


  • Você é um pouquinho mais velho que as outras crianças né.


  • Um pouco.  Tenho 13 anos, enquanto a maioria alí tem 10 ou 11 anos.


  • O que aconteceu para que você se atrasasse nos estudos?


  • É que eu sou burro. Não aprendo nada e repiti dois anos.


  • Você não é burro…


  • Até minha família fala que sou burro.


  • Mas estão enganados. Tenho certeza de que você é muito capaz de aprender tudo o que quiser.


  • Será ? Chego a pensar que a senhora está falando essas coisas porque é boazinha.


  • Você acha que sou capaz de mentir?


  • Não. Não é isso que estou dizendo.


  • Então vou te provar que tudo o que estou lhe dizendo é a mais pura verdade.


Eles se despediram e Francisco foi para casa mais feliz do que nunca.


Tânia foi para casa pensativa:


  • Será que já conheço esse menino de algum lugar ? Deu-me uma vontade de acolhê-lo, de abraçá-lo. Por que será que senti tanta ternura por ele ?


Esse é apenas o começo de uma longa história….





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