A dura luta de Renato contra si mesmo.

 Renato não aguentava mais trabalhar naquela empresa, pois se sentia um impostor, já que, no seu modo de pensar, tecnologia não era sua área.

- Você tá maluco cara ? Estudar Filosofia quando todos estão se especializando em tecnologia?

- Não quero isso para o resto da minha vida! Sou um humanista de carteirinha! 

Sempre repetia o chavão para justificar mais para si mesmo a razão da sua "escolha inusitada. E ainda arrematava:

- De mais a mais, eu tenho meu livre arbítrio, meu direito de escolher o que quero estudar.

E Renato se formou em Filosofia e foi trabalhar numa escola da periferia capital paulista, mas não sem antes estudar e fazer vários concursos para alcançar seu objetivo.

Na saída da empresa o chefe foi-lhe extremamente compreensivo:

- Hoje você assina sua demissão após anos de dedicação à empresa. Saiba que você foi um técnico bastante competente no que fazia. Renato ficou pasmo, pois nem ele se achava tão competente assim.

- Obrigado chefe! Serei sempre grato a você pela compreensão e apoio constantes.

Renato fora demitido da empresa pela compreensão do chefe, pois o Interesse era apenas seu, visto que já estava ocupando um cargo  na escola pública Senador Pompeu, na periferia paulista. Na empresa, fazia plantões noturnos há dois anos e já sabia que não poderia voltar a fazer plantões diurnos. A demissão era uma solução urgente e sumamente necessária.

Mas nosso amigo já estava vivendo o desafio da convivência diária numa escola, onde a guerra de egos era imensa e o desafio da sala de aula, estafante. Para ele, admistrar os conflitos com os discentes (alunos) estava se mostrando "menos desconfortável" que a difícil convivência com os professores. Ele nunca achou que seria fácil, pois  já antevia, intuitivamente, o grande desafio a enfrentar, mas também sabia que precisava encarar isso se quisesse crescer como ser humano.

- Mas dona Florinda, o que é que tem a menina se assumir? Isso é até bom, pois ela está começando a se conhecer melhor.

- Isso é falta de Deus no coração! onde já se viu uma menina se vestir de homem! Isso é o fim do mundo mesmo!

- Não acho dona Florinda. Acho que temos mesmo é que lutar contra os preconceitos. Eles é são os problemas da nossa sociedade.

Com a cara fechada, dona Florinda deu a conversa por encerrada. Mas ficou tremendamente magoada com aquele sujeito que a chamou de preconceituosa sem mais nem menos . Ela era tradicional e não preconceituosa! Onde já se viu!

Renato sempre observava os movimentos de leva e trás da alcoviteira senhora e o forte ódio que esta nutria contra os homossexuais. Depois de algum tempo, entre coisas,  concluiu:

- Dona Florinda é sapatão! Coitada! Deve ser difícil conviver com esse auto-preconceito arraigado. Mas, cada um que lide de com suas questões da maneira que achar mais adequado, pensava ele.  


Após a saída da empresa, a vida de Renato deu uma guinada. Passou a ter os finais de semanas todos livres para viajar com a família. Sua vida já havia sido abençoada com a chegada de uma nova filha e isso, naquele momento, seu maior motivo de alegria. Porém, os desafios no trabalho cresceram exponencialmente e ele tinha problemas constantes na sala de aula, na convivência com os docentes, na convivência familiar etc.

Mas ele não ainda não tinha uma compressão mais abrangente da situação, pois olhava as situações que vivenciava sob uma ótica muito pessoal e, consequentemente, carente de mais elementos.




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