A história de um menino "lerdo". Parte 2
João trabalhava na Embratel e tinha o supervisor Paulo Escurinho" como um pai. Assim, se passaram rapidamente um ano e quatro meses. João ia completar 18 anos e não queria ficar desempregado ao chegar na maioridade. Conversando com Paulo Escurinho", esse lhe assegurou:
- Se você não servir o exército eu consigo uma vaga pra você aqui. Servindo, eu não posso garantir nada. Então, ele ficou na expectativa de se apresentar para o serviço militar e bolando estratégias mentalmente para escapar da lista dos que serviriam o exército. No dia da apresentação, João se impressiona:
- Nossa quanto constrangimento!
João falava das centenas de adolescentes pelados numa sala enorme onde todos seriam minuciosamente examinados. Alguns se negavam a tirar a roupa, mas eram forçados a fazê-lo com grosseria por um sargento que parecia gostar de observar as genitálias dos meninos desnudos, o que os encabulvava ainda mais. João tirou a roupa sem nenhum problema e observava que muitos meninos ainda não se haviam desenvolvido fisicamente.
Havia dois grupos: os dispensados, a maioria por causa do porte físico franzino, sendo grande para eles a frustração e aqueles que serviriam. Advinha em que grupo João se encaixou?
- Sargento, eu não posso servir!
- por que não pode ? As coisas não funcionam assim. Você é obrigado a servir.
- Eu até gostaria, sargento, mas eu tenho uma grave lesão no joelho e não posso correr. Servir para mim seria um sonho, mas eu não posso deixar de ser honesto com vocês.
- Tá bom vá para o outro lado então.
João tentou conter a alegria que sentia e um risinho irônico de satisfação lhe brotou dos lábios quando ele se afastou do incubado e grosseiro militar. Pegou o documento de dispensa militar por "excesso de contingência.
- Paulo, meu amigo, consegui ser dispensado do exército. Agora aguardo seu retorno.
- Vou falar com o chefe aqui, mas ele vai ter que falar com a Maria Inês e ela pode querer atrapalhar sua contratação.
Maria Inês é aquela que queria dispensar João logo no principio do seu estágio. Se tal coisa tivesse acontecido, nem o que seria de João.
Trabalho na obra.
João estava muito ansioso esperando o retorno do amigo Paulo Escurinho. Se apresentou para o serviço militar e, desde o princípio de julho, havia sido dispensado. Esperava que tudo acontecesse rapidamente. Mas não foi bem assim.
- Oi Paulo! Como vão as coisas meu amigo?
- Tudo tranquilo João, mas sua vaga ainda não saiu.
- Mas já passaram duas semanas!
- E ainda pode demorar muito mais, pois estamos na dependência da Maria Inês. semanas e semanas depois...
- Vou pegar uma obra lá na penha. Quer trabalhar comigo?
Na casa modesta do pai de João, havia muita criança, espaço limitado, mas sempre tinha lugar para mais um. Antônio, pedreiro e amigo da família, havia separado da mulher e passava um tempo morando na casa de João. Ele chamou João para trabalhar na obra. Tal convite surgiu quando João já estava morrendo de ansiedade após dois meses de espera.
- Aceito Antônio. Não posso mais ficar em casa nessa ansiedade. Mas, semanas depois:
- Ligou para você um homem chamado Paulo Escurinho! lhe disse a vizinha que tinha telefone em casa.
Então, a ansiedade tomou conta de João.
- Será que saiu a vaga meu Deus! Naquele dia não dava mais para ligar para a empresa, mas o Paulo já tinha telefone em casa.
- Alô. O Paulo, por favor.
- Ele não está em casa.
- Sabe que horas ele volta?
- Não tenho ideia. Ele não me disse nada.
Quem atendeu o telefone foi Sueli, esposa de Paulo, mas que viviam às turras, isto é, tinham muitos desentendimentos, coisas de de casal, como dizia uma canção popular dos anos 80. Mas, deixemos a vida de Paulo pra lá. Três horas depois:
- Alô! Paulo.
- Não. Aqui é o cunhado dele. Espere aí. Vou chamá-lo.
- Fala João. Ainda bem que você ligou. Tem que se apresentar com todos os documentos. Você tem identidade, CPF e carteira de trabalho?
- Claro que tenho, meu amigo.
- Então se apresenta amanhã às 10 horas na empresa NG2000 na rua tal....
- Será que vou ser contratado amanhã?
- Com certeza, meu amigo. Demorou, mas saiu.
14 de novembro de 1984. A espera de mais de 4 meses quase matou João de ansiedade, mas finalmente aconteceu. João pensava, rolava na cama de um lado para o outro e dormiu pouquíssimo naquele noite, tal era a sua ansiedade. Na empresa, apenas entregou os documentos e tudo estava consumando. Se apresentou no mesmo dia para o trabalho, mas Paulo Escurinho lhe disse:
- Volte amanhã meu amigo. Vá para casa e descanse bastante hoje.
Um novo recomeço.
Desde aquele recomeço na Embratel, a vida de João desabrochou e seu horizontes se expandiram. Trabalhava muitas vezes até mais tarde e, algumas vezes, se atrasava para chegar na escola. Por causa das constantes faltas e atrasos ainda repetiu um ano antes te terminar o ensino fundamental. O ensino médio, alguns anos depois, foi em escola particular e João já tinha consciência de ter uma memória privilegiada, já gostava de livros e já estava progredindo como ser humano racional.
Teve algum destaque como um dos melhores estudantes do ensino médio técnico em contabilidade, mas sentia que não podia parar por ali. Mas João já era um jovem de vinte e poucos anos e vieram os relacionamentos e as complicações.
Continua depois.
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