Convivência saudável e gratidão sempre.
-Mas François você tem um bom emprego ?
- Mas a minha inquietação aumenta e parece que já não me encaixo aqui.
- Como assim meu caro? Você tem um salário razoável e trabalha numa empresa ótima.
-Porém, isso não é suficiente.
- Mas estudar Filosofia quando você trabalha na área tecnológica ? Você não tem medo de ser demitido?
- Até tenho um pouco, meu amigo, pois ainda não estou formado, mas um dia eu pedirei para sair da empresa.
François vivia o extremo da metanoia e a pressão dentro da empresa era cada vez maior, pois novas tecnologias chegavam e ele tinha que dar conta de aprender tudo aquilo que, na verdade, já não lhe despertava nenhum interesse. Mas, mesmo com todas as demandas, o jovem François ia se virando como podia e dando conta do recado dentro da empresa e seguia firme na faculdade de filosofia.
Em casa a pressão não era menor:
- Você tem que se dedicar mais ao seu trabalho e não ficar gastando tempo e energia numa faculdade que não tem nada a ver com seu trabalho.
- Mas eu quero trabalhar com ciências humanas, quero trabalhar com o ser humano. Tecnologia não é a minha praia.
- Mas você está sendo negligente com seu trabalho e pode ser demitido antes de se formar na faculdade.
- Obrigado pelo apoio, Maria! Você me deixa muito melhor com suas opiniões otimistas. Porém, não vou desistir dos meus objetivos. Eu estou fazendo o que gosto e disso não abro mão.
O medo de Maria era compreensível, pois a mudança sempre assusta e seu marido estava querendo abrir mão de um excelente emprego para se arriscar numa "aventura" de um recomeço naquela altura da vida. François havia entrado na empresa num projeto de menor aprendiz e permaneceu lá quando completou 18 anos. Maria acompanhou boa parte dessa trajetória que havia dado uma guinada nos últimos anos, pois o salário melhorou bem com a mudança de cargo. Mas nada disso seduzia François.
Quando François terminou a faculdade e traçava projetos futuristas, o chefe, surpreendentemente, lhe deu uma promoção e lhe pediu dedicação exclusiva após o término da faculdade. Outros colegas sentiram inveja e François, ao invés de se sentir empolgação, foi tomado pela culpa de não poder fazer aquilo que o chefe queria. Passar em concursos públicos era agora a sua prioridade absoluta. Com duas matrículas de professor ele receberia um pouco mais da metade do seu salário na empresa, mas François queria isso.
Décadas depois, já como mestre, após muito sofrer com suas questões internas e com resistências e alguma procrastinação, François, agora um homem de meia idade, já quase entrando na casa dos 60 anos não se arrepende da sua escolha de vida. As coisas foram difíceis durante muito tempo, mas agora ele entende que os problemas externos sempre foram reflexos das questões interiores que lhe atormentavam, conclamando-o à mudança.
François sempre foi um sujeito propenso à solidão, mas sentia naquele tempo de inquietação na empresa que precisava de um contato social mais intenso para crescer como ser humano. Mesmo com uma voz interior que sempre lhe dizia:
- Vai ser muito difícil. Talvez você não consiga conviver de maneira muito saudável com outras pessoas, pois todos tem suas complexidades.
Mas, a contrapartida vinha com outra voz que lhe dizia:
- Você precisa disso meu irmão. Vá em frente e jamais desista dos seus projetos.
A segunda voz (a voz da consciência) venceu esse embate e François olha para trás hoje tendo a como guia a gratidão por tudo o que tem alcançado nas relações humanas e o aprendizado que tem sido cada vez mais profundo. A convivência diária com os estudantes não tem sido uma obrigação maçante ou feita apenas de cansaços e corres-corres, mas tem trazido compensações e aprendizados maravilhosos.
Hoje François é uma homem um pouco mais consciente das seus limites e conquistas e segue sua trajetória com os pés fincados no chão e gostando cada vez mais desse contato humano diário. O crescimento pessoal se dá a cada dia e hoje, olhando para trás, ele compreende tudo o que se passou quando o que mais precisava era sair do casulo para uma convivência efetiva com as pessoas.
Ninguém cresce na solidão, embora ela seja sumamente necessária para a reflexão, para a leitura e para entender os processos vividos com outras pessoas. Porém, a convivência social saudável tem que andar lado a lado com esses momentos de solitude, que é a solidão criativa e saudável.
Essa é a visão de mundo do François de 58 anos que também aprendeu uma coisa fundamental que é viver um dia de cada vez, sem se preocupar muito com o futuro e nem ficar preso no passado.
François é muito grato a tudo o que a vida tem lhe proporcionado e só agradece ao criador nas suas orações diárias. Gratidão até nos momentos mais difceis, pois eles trazem muitos aprendizados.
Enfim, essa é a filosofia de vida atual de François, um homem imperfeito, mas cada vez mais consciente das suas imperfeições.
Sua maior felicidade no momento é esse contato humano que lhe dá motivação para viver e acreditar na vida. O recado que ele me pediu para lhes transmitir é:
-VAMOS APRENDER A SER GRATOS ?
Comentários
Postar um comentário