Diálogo com minha criança interior....

 Francisco andava pela rua chutando uma bolinha de papel e estava desligado, como de costume. Assim, nem percebeu quando um homem dos seus sessenta anos, cabelos grisalhos quase que totalmente brancos se aproximava. 

- Oi, menino! 

-Oi, tio! O senhor me conhece? Francisco já estava atemorizado.

- Não vou te fazer nenhum mal, menino. Apenas quero te conhecer melhor.

- Eu poderia correr, mas tenho a impressão de que o senhor é boa pessoa. 

- Não se assuste, só quero o seu bem.

- O que o senhor quer comigo, tio?

- Quero lhe fazer algumas perguntas. Posso?

- Eu sou burro e não vou conseguir responder.

- Você não é burro e vou te provar isso. Vamos começar?

- Tá bom, o senhor é quem sabe.

- Você anda sempre sozinho?

- Eu gosto de andar sozinho. Não gosto de incomodar as pessoas.

- Você acha que sua presença incomoda as pessoas?

- Eu acho. As pessoas me criticam porque sou lerdo e desligado e só gosto de andar no meu ritmo.

- Isso não significa que você seja lerdo...

- Mas eu sei que sou lerdo mesmo. Lá em casa todos me chamam de burro e lerdo.

- Não acredite nisso, menino!

- Eu sei que sou desligado mesmo, mas às vezes penso muito na vida.

- Você tem amigos?

- Não tenho.

- E na escola?

- Tenho apenas um que se chama Renato, mas ainda não sei se posso chamá-lo de amigo. Ele parece gostar de mim.

- Que bom, mas deixe o tempo passar para ver.

- Você gosta de estar sempre sozinho?

- Não é que eu goste, mas é o que me resta.

- Você gostaria de ter muitos amigos?

- É o meu sonho.

- Por que não se aproxima das outras crianças?

- Tenho um terrível medo de não ser aceito.

- Mas não custa tentar.

- Não sei se consigo. É muito difícil para mim.

- Como é sua relação com sua família, pais, irmãos etc.

- É muito distante. Meus pais não conversaram comigo e acho que conversam pouco com meus irmãos também.

- Como você se sente?

- Quase sempre me sinto sozinho e vivo no meu mundo.

- Como é o seu mundo?

- É um mundo de faz de conta.

- Como assim?

- Me imagino grande, bonito, inteligente e cercado de gente.

- Mas você é bonito e inteligente.

- Só o senhor que acha, tio.

- Mas estou falando a verdade.

- O difícil é eu acreditar nisso.

- Vou subir esse morro. Quer ir na minha casa?

- Não. Vamos voltar a esse papo outro dia. Ainda quero saber muito sobre você.

- Muito obrigado, tio!! Não vejo a hora de voltar a conversar com o senhor.

- Vá com Deus!

- O senhor também!


Segundo dia.

-Oi Francisco!

- O senhor por aqui novamente?

- Eu disse que ia votar...

- Eu sei, mas eu não acreditei.

- Você acha que sou mentiroso?

- Não foi isso que quis dizer....

- Tá bom. Deixa isso pra lá. Vamos conversar então?

- Sim, mas sobre o que ?

- Ora, sobre você. É óbvio.

- Eu não tenho tanta importância assim.

- Mais do que possa imaginar.

- Até agora não sei o nome do senhor....

- Pode me chamar de anjo da guarda.

- Como assim? Esse é o seu nome? 

- Não. Esse é o nome que você vai me chama. Pode ser Ângelo também.

- Tá bom. Ângelo é melhor.

- Mas você me dizia que gosta estar sozinho..

- Sim. Quase sempre estou sozinho.

- Isso não te faz sofrer?

- Às s vezes sim, mas eu não penso muito nisso.

-  Mas você não vive pensando o tempo todo?

- Penso muito, mas minha especialidade é criar mundos de fantasia.

- Você é feliz nesses mundos?

- Muito feliz.

- Então continue assim.

- Só assim consigo viver bem. Acho que sou mesmo viciado em viver fora da realidade.

- Essa é a sua realidade. Cada um tem a sua. Cada mente é um universo.

- Nossa! Isso é muito profundo!

- Nosso mundo é um universo só e lá nesse mundo a gente pode ser o que quiser. Isso é muito bom.

- Você fala coisas tão bonitas...

- Apenas a realidade..

- Chegamos muito rápido hoje.

- Amanhã nos falamos de novo. Fique com Deus, Francisco!

- Vá com Deus, Senhor Ângelo.






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