Minha irmã, nossos laços afetivos e as pazes com o passado.
Nós últimos anos tenho tentado rever o complicado passado familiar com outros olhos, tentando dar um novo significado para aqueles tempos tão complexos. Essa tarefa não é tão fácil assim e eu tenho constatado essa realidade na prática, pois há anos a tenho tentado e às vezes sinto que esse passado ainda me machuca muito mais do que eu gostaria.
Às vezes me cobro de uma maneira dura:
- Mas, Francisco, por que você não criou laços afetivos com seus irmãos?
E reflito que não posso ser responsável pelo afeto não alimentado quando éramos crianças e nós, simplesmente, não aprendemos a ser afetivos um com o outro, pois não tínhamos essa iniciativa vinda dos nossos genitores e crescemos sem essa base e isso afeta a todos os meus irmãos de uma forma ou de outra.
- Mas você quase não tem amigos né Francisco.
É verdade. Fazer amizades sempre foi muito difícil para mim. Nunca gostei de me enturmar e dos grupos dos quais fiz parte, pouca coisa sobrou em termos de afetividade.
- Será uma repetição do seu padrão familiar?
Essa dificuldade em criar laços talvez tenha influências do meu passado, principalmente na minha maneira de funcionar gostando mais de estar sozinho na maioria das vezes. Mas as relações sociais são vias de mão dupla e eu não posso me responsabilizar sozinho por esses relacionamentos, digamos, triviais. As coisas são muito mais complexas do que podemos imaginar.
- Mas e na sua família? Não há nenhum irmão ou irmã com quem você goste de estar?
- Gostar de estar junto é uma questão de oportunidade, mas principalmente de afinidade. Eu até gosto de estar perto de alguns dos meus irmãos, mas afinidade já é uma coisa mais profunda.
Há alguns anos, meu relacionamento com minha irmã mais velha, Aparecida, vem evoluindo para uma bela amizade entre irmãos. Não sinto a mesma coisa perto de outros irmãos e acho que talvez as coisas se deem por causa da confiança que tenho nela, pois ela foi a presença feminina mais significativa em nossas vidas, mesmo sendo por um período de tempo relativamente curto, pois trabalhava desde muito novinha e casou com menos de vinte anos de idade.
Talvez eu esteja vivendo esse passado de maneira mais significativa agora, visto que, nesse momento, estou disposto a cicatrizar as feridas desse passado conturbadissimo. Minha irmã tem um elo fortíssimo com os fatos do meu passado, pois vivemos na mesma família disfuncional. Ela teve e continua ter uma importância capital na minha vida.
Vale lembrar, também, que ela é madura e perspicaz fazendo, como eu, uma leitura mais realista e madura desse passado em comum.
A disponibilidade dela também é um fator importante nesse momento, pois ela foi cuidadora da minha mãe por anos a fio e ficou livre dessa complicada missão com a desencarnação da nossa genitora. Além do mais, está viúva e com mais liberdade de ir e vir para onde quiser.
Meus outros irmãos não têm essa liberdade, pois estão atrelados aos interesses de suas respectivas famílias.
Pretendo aprofundar essa amizade e acho que dela pode sair o remedinho milagroso que me ajudará a fazer as pazes com alguns dos fantasmas do meu passado.
Vamos aprender juntos e crescer unidos, minha querida irmã. Que Jesus ilumine os nossos propósitos.
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