Alfabetização afetiva.
No começo de novembro de 2010 eu dava início ao maior desafio da minha atual existência, pois sabia o quão complexo seria o trabalho com os "pequenos" do ensino fundamental, pois sabia das minhas limitações para impor disciplina.
- Por que para você é tão complicado a questão disciplinar ?
- Por que ninguém consegue impor aquilo que não possui internamente.
- Como assim?
- Eu não tendo disciplina não posso impor isso. Eles percebem isso rapidamente.
- Mas dá para aprender isso...
- Sim. Mas para mim sempre foi difícil esse aprendizado, pois cresci com horror a quaisquer tipos de autoritarismo e às vezes, me parece, existe uma linha tênue entre autoritarismo e o tipo de disciplina que, costumeiramente, se impõe em sala de aula.
- Mas são coisas diferentes, né meu caro!
- Sim, hoje percebo claramente que são coisas totalmente diferentes, mas houve uma grande confusão na minha mente, gerando esse conflito, essa confusão conceitual. Entretanto, esse assunto é por demais complexo e eu não gostaria de me aprofundar nessa temática. Pelo menos esse não é o foco desse texto.
- Mas qual é foco desse texto então?
- Em meio a tanta confusão e conflitos de uma mente acostumada à indisciplina eu buscava algo que, naquele momento, não estava totalmente claro para mim.
- O que você buscava?
- Queria ter voz ativa, me expressar de maneira mais incisiva, pois ansiava por isso. Mas tinha algo maior e muito mais importante para o meu crescimento pessoal.
- Você ainda não chegou no ponto...
- Calma, pois estou chegando lá. O meu principal aprendizado já havia começado na minha segunda família, pois Márcia e minhas filhas me deram oportunidades de expressar a minha AFETIVIDADE, conceito chave na busca do meu verdadeiro eu.
- Então você estava em busca da voz que não teve durante boa parte da sua existência e da troca afetiva que lhe foi negada na primeira família ?
- Sim. Eu queria me expressar, coisa mais do ego, reconheço, mas também buscava aumentar o meu "letramento afetivo". Me desculpe a invenção conceitual, mas hoje acredito que o afeto deve ser aprendido como as primeiras letras, ou seja, precisamos ter uma "alfabetização afetiva".
- Interessante isso. Será que o afeto precisa mesmo ser ensinado ou já nascemos com ele ?
- Nascemos com ele latente, mas se a família não o estimular a gente cresce carecendo desse aprendizado que tende a ser meio desajeitado na idade adulta. Assim, nos tornamos um ser humano incompleto.
- Entendi. Você está falando de inteligência emocional né.
- Exatamente. Inteligência emocional era uma das minhas maiores carências. Eu já tinha aprendido alguma coisa disso, mas eu sabia que ainda carecia de consololidar muita coisa nesse sentido e era isso que eu buscava: consolidar minha alfabetização afetiva.
- E você conseguiu?
- Dei passos significativos nesse sentido, mas ainda estou aprendendo muito. Porém, nesse fechamento de ciclo da minha existência, vejo essa troca de afetos com os "pequenos" como a maior conquista das últimas décadas da minha conturbada existência.
- Então você sai outro ser humano após esses mais de 15 anos de trocas ?
- Saio consciente das minhas dificuldades, vendo com clareza meus aspectos sombrios, mas sabendo que estou no caminho da humanização pelo aprendizado diuturno do afeto.
- Desejo boa sorte na sua jornada e discernimento nas escolhas dos caminhos futuros.
- Obrigado! Agora estarei considerando sempre as motivações por detrás das minhas escolhas e os aspectos afetivos devem vir em plano primário sempre. Foi bom conversar com você mais uma vez.
-Estarei sempre ao seu dispor!
- Obrigado mais uma vez!
Comentários
Postar um comentário